Anc no mori per amor

- Peire Vidal -


   Poema de amor escrito pelo trovador Peire Vidal, foi mal recebido em sua época (com muita razão). Chamado de brega, Peire enfeita excessivamente seus versos com metáforas e comparações desnecessárias, por essa razão a obra foi parodiada por Uc de Lescura em seu poema "De mots ricos no tem Peire Vidal"

(1)
Anc no mori per amor ni per al,
Mais ma vida pot be valer murir
Quan vei la ren qu'eu plus am e dezir
E ren no.m fai mas quan dolor e mal.
Ben me val mort, mais enquer m'es plus grieu,
Qu'en breu serem ja vielh et ilh et ieu:
E s'aissi pert lo mieu e.l sieu joven,
Mal m'es del mieu, mais del sieu per un cen.

(2)
Anc mais no vi plag tan descomunal,
Que quant ieu puesc nulla ren far ni dir,
Qu'a lieis degues plazer ni abellir,
Ja mais no voill far nulh autre jornal.
E tot quan fas par a lieis vil e lieu,
Que per merce ni per amor de Dieu
No.i puesc trobar ab lei nulh chauzimen!
Tort a de me e peccat ses conten.

(3)
Bona domna, vostr'home natural
Podetz, si.us plai, leugeiramen aucir:
Mas a la gen vos faretz escarnir
E pois auretz en peccat criminal.
Vostr'om sui be, que ges no.m tenc per mieu,
Mas ben laiss'om a mal senhor son fieu!
E val ben pauc rics hom, quan pert sa gen,
Qu'a Daire.l rei de Persa fon parven.

(4)
Estiers mon grat am tot sol per cabal
Lieis que no.m denha vezer ni auzir.
Que farai doncs, pus no m'en puesc partir,
Ni chauzimens ni merces no mi val
Tenrai.m a l'us de l'enuios romieu,
Que quier e quier, quar de la freja nieu
Nais lo cristals, don hom trai fuec arden:
E per esfortz venson li bon sufren.

(5)
Doncs que farai sufrirai per aital,
Co.l pres destregz, cui aven a sufrir,
S'om li fai mal, mas ben saupra grazir
Qui.m fezes be en luec d'amic leial.
E s'ieu volgues, domna, penr'autrui fieu,
Honrat plazer agra conquist em brieu!
Mas res ses vos no.m pot esser plazen
Ni de ren als gaug entier non aten.

(6)
Per so m'en sui gitatz a no m'en cal,
Cum l'om volpilhs que s'oblid'a fugir,
Que no s'auza tornar ni pot gandir,
Quan l'encausson siei enemic mortal.
No sai conort, mas aquel del Juzieu,
Que si.m fai mal, fai om adeis lo sieu!
Aissi cum sel qu'a orbas si defen,
Ai tot perdut la fors'e l'ardimen.

(7)
Lai vir mon chan, al rei celestial,
Cui devem tug onrar et obezir,
Et es mestier que l'anem lai servir,
On conquerrem la vid'esperital!
Que.lh Sarrazi, deslial Caninieu,
L'an tout son rengn'e destruita sa plieu,
Que sazit an la crotz e.l monimen:
Don devem tug aver gran espaven.

(8)
Coms de Peitieus, de vos mi clam a Dieu
E Dieus a mi per aquel eis coven,
Qu'amdos avetz trazitz mout malamen,
Lui de sa crotz e me de mon argen,
Per qu'en devetz aver gran marrimen.

(9)
Coms de Peitieus, bels seigner, vos et ieu
Avem lo pretz de tota l'autra gen,
Vos de ben far et eu de dir lo gen.

Tradução

(1)
Nunca morri por amor nem por outra coisa,
Mas minha vida vale tanto quanto a morte
Quando vejo a coisa que mais amo e desejo
Me causar apenas mal e dor.
Bem me vale a morte, mas é mais doloroso,
Que em breve seremos velhos, ela e eu,
E se assim ela perder a juventude minha e dela,
É mal para mim, mas cem vezes mais para ela.

(2)
Nunca vi uma disputa tão descomunal,
Como quando não posso dizer nem fazer nada
Que agrada ou contenta ela;
Não quero jamais tentar outra coisa.
E tudo que faço parece vil ou egoísta
Que pela misericórdia nem pelo amor de Deus
Não consigo achar nenhuma compaixão.
Sem questionar ela erra e peca contra mim.

(3)
Bela dama, vosso homem natural,
Pode, se te agradar, facilmente matar,
Mas você será escarnecida por todos
E depois estará em pecado criminoso.
Sou o vosso homem, eu não pertenço a mim,
Mas alguém bem deixa seu feudo por um senhor mal;
E um homem rico vale pouco quando perde sua gente,
Como Dario, rei da Pérsia, deixou evidente.

(4)
Apesar de minha vontade, amo inteiramente
Aquela que não se digna a me ver ou ouvir,
O que farei, desde que não posso partir,
Se nem a compaixão e misericórdia não me ajudam?
Terei que adotar os hábitos de um peregrino chato,
Que quer e quer, mas da fria neve
Nasce o cristal do qual atrai o fogo ardente;
E pelo esforço vencem os bons amantes.

(5)
O que farei? Sofrerei de qualquer forma,
Como o prisioneiro estressado, que deve sofrer
Se alguém o faz mal, mas eu gratamente trato
Quem me trata como um bom e leal amigo.
E se eu quisesse, dama, ter outro feudo,
Em breve conquistaria um honrado prazer;
Mas nada sem você pode me agradar
E nem espero um prazer total de outro alguém.

(6)
Por isso me tornei tão indiferente
Como um covarde que esquece de fugir,
Que não ousa se virar e nem pode escapar
Quando é perseguido por seus inimigos mortais.
Não conheço conforto, exceto aquele do judeu:
Quem me faz mal, também faz mal a si mesmo.
Assim como aquele que cegamente se defende,
Eu perdi toda a força e coragem.

(7)
Eu viro minha canção para lá, ao Rei Celestial
Que devemos honrar e obedecer,
E que devemos ir lá para o servir,
Pois os sarracenos, desleais canaanitas,
Capturaram seu reino e destruíram seu lugar,
Pois apreenderam a cruz e o sepulcro,
Por isso devemos ter grande pavor.

(8)
Conde de Poitou, eu reclamo de você a Deus,
E Deus para mim, por conta deste acordo,
Pois você traiu nós dois seriamente,
Ele por sua cruz e eu por minha prata (dinheiro),
Por isso você deve ter grande angústia.

(9)
Conde de Poitou, belo senhor, você e eu
Temos o méritos de toda gente,
Você por fazer bem, eu por falar bem.

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