Can vei la Lauzeta

- Bernart de Ventadorn -


Lamento amoroso escrito pelo trovador Bernart de Ventadorn. Este é bem conhecido e foi inspiração para muitas obras. Aqui o poeta lamento seu amor não correspondido.

(1)
Can vei la lauzeta mover
de joi sas alas contra·l rai,
que s'oblida e·s laissa chazer
per la doussor c'al cor li vai,
ai! tan grans enveya m'en ve
de cui qu'eu veya jauzion!
Meravilhas ai, car desse
lo cor de dezirer no·m fon.

(2)
Ai, las! tan cuidava saber
d'amor, e tan petit en sai,
car eu d'amar no·m posc tener
celeis don ja pro non aurai.
Tout m'a mo cor, e tout m'a me,
e se mezeis e tot lo mon;
e can se·m tolc, no·m laisset re
mas dezirer e cor volon

(3)
Anc non agui de me poder
ni no fui meus de l'or'en sai
que·m laisset en sos olhs vezer
en un miralh que mout me plai.
Miralhs, pus me mirei en te,
m'an mort li sospir de preon,
c'aissi·m perdei com perdet se
lo bels Narcisus en la fon.

(4)
De las domnas me dezesper;
ja mais en lor no·m fiarai;
c'aissi com las solh chaptener,
enaissi las deschaptenrai.
Pois vei c'una pro no m'en te
vas leis que·m destrui e'm cofon,
totas las dopt'e las mescre,
car be sai c'atretals se son.

(5)
D'aisso.s fa be femna parer
ma domna, per qu'e·lh o retrai,
car no vol so c'om deu voler,
e so c'om li deveda, fai.
Chazutz sui en mala merce,
et ai be faih co·l fols en pon;
e no sai per que m'esdeve,
mas car trop puyei contra mon.

(6)
Merces es perduda, per ver
(et eu non o saubi anc mai!),
car cilh qui plus en degr'aveI,
no·n a ges; et on la querrai?
A! can mal sembla, qui la ve,
qued aquest chaitiu deziron
que ja ses leis non aura be,
laisse morir, que no l'aon!

(7)
Pus ab midons no·m pot valer
precs ni merces ni·l dreihz qu'eu ai,
ni a leis no ven a plazer
qu'eu l'am, ja mais no·lh o dirai.
Aissi·m part de leis e·m recre;
mort m'a, e per mort li respon,
e vau m'en, pus ilh no·m rete,
chaitius, en issilh, no sai on.

(8)
Tristans, ges no·n auretz de me,
qu'eu m'en vau, chaitius, no sai on.
De chantar me gic e·m recre,
e de joi e d'amor m'escon.

Tradução

(1)
Quando vejo a cotovia mover
De alegria suas asas contra o raio de sol,
Que se esquece e se deixa cair
Pela doçura que ao coração vai,
Ai! Tão grande inveja me vem
De quem eu vejo a alegrar.
Maravilho-me como disso
meu coração não quebra de desejo.

(2)
Ai de mim! Eu tanto pensava saber
Sobre amor, mas tão pouco sei.
Pois eu do amor não posso ter
Aquela que não pode me dar nada.
 Ela tem todo meu coração, e tudo de mim,
A si mesmo e todo o mundo;
E quando se vai, não me deixa nada,
Mas apenas desejo e coração insuficiente.

(3)
 Eu nunca me tive ao meu poder, 
Nem fui meu desde da época
Que me deixou aos seus olhos ver
Em um espelho que muito me alegra.
Espelho, pois olhei-me em ti,
Os suspiros do profundo me mataram, 
Pois assim perdi-me, como se perdeu
O belo Narciso na fonte.


(4)
Das damas me desespero,
Jamais confiarei nelas de novo;
 Assim como eu costumava defendê-las
Agora vou desprezá-las.
Pois vejo não vejo nenhuma ajudar-me
Contra aquela que me destrói e me confunde.
De todas eu duvido e desconfio.
Porque bem sei que são todas iguais.

(5)
Isso me mostra que ela é apenas uma mulher,
Minha dama, por isso eu a culpo,
Pois ela não deseja o que deveria desejar,
 E o que ela deveria impedir, ela faz.
 Estou caído em má clemência,
 E eu fiz como o tolo na ponte;
 E não sei por que me tornei assim,
Apenas que estou muito alto na montanha.

(6)
A misericórdia se foi, de verdade,
E eu não sabia disso antes,
Pois aquela que mais deveria ter isso
Não há nenhuma, e onde a acharei?
Ah! Mal pensa, quem a vê,
 Que a este miserável desejador,
Que nunca estará bem sem ela,
Deixaria morrer, que não o ajudaria.

(7)
Pois nada pode me ajudar,
Orações nem favores, nem direito que eu tenho,
 Nem a ela vem o prazer.
Porque eu a amo, jamais a direi novamente.
. Assim eu parto e desisto;
Ela é minha morte, e por morte a respondo,
E vou-me, pois ela não me mantém.
Miserável, em exílio, não sei onde.

(8)
Tristão, nada terá de mim,
Pois eu vou-me, miserável, não sei onde.
Eu renuncio e deixo de cantar
E da alegria e do amor me escondo.

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