Dirai vos senes duptansa

- Marcabru -


  Mais um dos poemas morais de Marcabru, aqui ele fala sobre o quanto o amor está arruinado, uma crítica ao amor cortês. 

(1)
Dirai vos senes duptansa
D'aquest vers la comensansa!
Li mot fan de ver semblansa!
–Escoutatz!–
Qui ves Proeza balansa
Semblansa fai de malvatz.

(2)
Jovens faill e fraing e brisa,
Et Amors es d'aital guisa
De totz cessals a ces prisa,
–Escoutatz!–
Chascus en pren sa devisa,
Ja pois no·n sera cuitatz.

(3)
Amors vai com la belluja
Que coa·l fuec en la suja
Art lo fust e la festuja,
–Escoutatz!–
E non sap vas qual part fuja
Cel qui del fuec es gastatz.

(4)
Dirai vos d'Amor com signa!
De sai guarda, de lai guigna,
Sai baiza, de lai rechigna,
–Escoutatz!–
Plus sera dreicha que ligna
Quand ieu serai sos privatz.

(5)
Amors soli' esser drecha,
Mas er'es torta e brecha
Et a coillida tal decha
–Escoutatz!–
Lai ou non pot mordre, lecha
Plus aspramens no fai chatz.

(6)
Greu sera mais Amors vera
Pos del mel triet la cera
Anz sap si pelar la pera!
–Escoutatz!–
Doussa'us er com chans de lera
Si sol la coa·l troncatz.

(7)
Ab diables pren barata
Qui fals' Amor acoata,
No·il cal c'autra verga·l bata!
–Escoutatz!–
Plus non sent que cel qui·s grata
Tro que s'es vius escorjatz.

(8)
Amors es mout de mal avi!
Mil homes a mortz ses glavi,
Dieus non fetz tant fort gramavi!
–Escoutatz!–
Que tot nesci del plus savi
Non fassa, si·l ten al latz.

(9)
Amors a uzatge d'ega
Que tot jorn vol c'om la sega
E ditz que no·l dara trega
–Escoutatz!–
Mas que puej de leg'en lega,
Sia dejus o disnatz.

(10)
Cujatz vos qu'ieu non conosca
D'Amor s'es orba o losca
Sos digz aplan'et entosca,
–Escoutatz!–
Plus suau poing qu'una mosca
Mas plus greu n'es hom sanatz.

(11)
Qui per sen de femna reigna
Dreitz es que mals li·n aveigna,
Si cum la letra·ns enseigna!
–Escoutatz!–
Malaventura·us en veigna
Si tuich no vos en gardatz

(12)
Marcabrus, fills Marcabruna,
Fo engenratz en tal luna
Qu'el sap d'Amor cum degruna,
–Escoutatz!–
Quez anc non amet neguna,
Ni d'autra non fo amatz.

Tradução

(1)
Direi-vos sem hesitação
Do começo desse verso:
As palavras têm aparência de verdade,
-Escutai!-
Quem frente a valentia balança
Tem o semblante de um malvado.

(2)
Juventude falha, caída e quebrada
E o amor é de maneira
A tributar todos em seu poder.
-Escutai!-
Cada um faz sua parte
E depois não será isentado.

(3)
O amor é como a fagulha
Que arde na fuligem do fogo
E depois queima a madeira e palha.
-Escutai!-
E não sabe para qual parte fugir,
Aquele que do fogo é consumido.

(4)
Direi-vos como o amor sinaliza:
Aqui olha, ali pisca,
Aqui beija, ali sorri,
-Escutai!-
Será mais reta que flecha
Quando eu for seu confidente.

(5)
Amor costumava ser direito,
Mas agora é torto e quebrado,
E adquiriu o hábito.
-Escutai!-
Lá onde não pode morder, lambe
Mais asperamente que um gato.

(6)
Dificilmente o amor será verdadeiro de novo,
Pois do mel (ele) separou a cera,
Mas sabe bem descascar a pera.
-Escutai!-
É doce como o canto da lira,
Mas só se você cortar sua cauda.

(7)
Com o diabo brinca
Quem aceita o amor falso,
Nenhum outro bastão é necessário para o bater;
-Escutai!-
Ele não sente mais que aquele que se coça
Até que é esfolado vivo.

(8)
O amor é de má linhagem,
Matou mil homens sem espada,
Deus não criou um feiticeiro mais temível!
-Escutai!-
Pois o néscio ao mais sábio
Não faz, se o tem ao seu lado.

(9)
O amor se comporta como a égua,
Que o dia todo quer ser seguida,
E diz que não dará trégua.
-Escutai!-
Mas que pode montar de légua a légua,
Seja com fome ou saciada.

(10)
Achas que eu não sei
Se o amor é cego ou vesgo?
Suas palavras são suaves e polidas,
-Escutai!-
Ferrão mais suave que de uma mutuca
Porém mais difícil de curar.

(11)
Quem pela sabedoria de uma mulher age,
Merece todo mal que o cai,
Assim como a Escritura nos ensina!
-Escutai!-
Mal a ti,
Se você não se proteger disso!

(12)
Marcabru, filho de Marcabruna,
Que foi engendrado em tal lua,
Que sabe de como o amor se arruína.
-Escutai!-
Que de mulher nunca amou nenhuma,
E que nem por outra foi amado.

Mensagens populares deste blogue