L'autrier jost' una sebissa

 

L'autrier jost' una sebissa

- Marcabrú -


Poema-debate de cunho moral escrito por Marcabrú. Num tom humorístico, Marcabrú zomba do ambiente cortês, representando um cavaleiro indecente que tenta persuadir uma camponesa pura a ter relações, mas que no final, acaba sendo humilhado pelas respostas da moça.


(1)

L’autrier just’una sebissa
Trobey pastora mestissa
De joi e de sen massissa,
E fon filha de vilaina;
Cap’e gonela, pelissa,
Vest e camiza treslissa,
Sotlars e causas de laina.

(2)
Ves lieys vau per la planissa;
“Toza,” fi m’ieu, “re faytissa,
Dol ay gran del ven que.us fissa.”
“Senher,” so dis la vilayna,
“Merce Dieu e ma noirissa,
Pauc m’o pres si.l vens m’erissa,
C’alegreta soi e sayna.”

(3)
“Toza,” fi m’ieu, “cauza pia,
Destoutz me soy de la via
Per far a vos companhia,
Car aytal toza vilayna
Non pot ses parelh paria
Pastorjar tanta bestia
En aytal loc, tan soldayna.”

(4)
“Don,” fay sela, “qui que sia,
Ben conosc sen o fulia;
La vostra parelhayria,
Senher,” so dis la vilaina,
“Lay on se tanh si s’estia,
Que tals la cuj’en baylia
Tener, no n’a mays l’ufayna.”

(5)
“Toza de gentil afayre,
Cavayers fo vostre payre
Que.us engenret, e la mayre
Tan fon corteza vilayna.
Com pus vos gart, m’es belayre,
E pel vostre joi m’esclaire;
Si fossetz un pauc humayna!”

(6)
“Senher, mon genh e mon ayre
Vey revertir et retrayre
Al vezoich et a l’arayre,
Senher,” so ditz la vilayna;
“Mays tal se fay cavalgayre
C’atretal deuria fayre
Lo seis jorns de la semayna!”

(7)
“Toza,” fi m’ieu, “gentil fada
Vos adrastec can fos nada
D’una beutat esmerada
Sobre tot’autra vilayna;
E seria.us be doblada,
Si.m vezi’una vegada
Sobiran e vos sotraina.”

(8)
“Senher, tan m’avetz lauzada
Pus en pretz m’avetz levada,
Qu’ar vostr’amor tan m’agrada,
Senher,” so dis la vilayna,
“Per tal n’auret per soldada
Al partir, ‘Bada, fol, bada!’
E la muz’a meliayna.”

(9)
“Toza, fel cor e salvatje
Adomesg’om per uzatge;
Ben conosc al trespassatje
C’ap aital toza vilayna
Pot om far ric companatje
Ab amistat de coratje,
Can l’us l’autre non enjaina.”

(10)
“Don, hom cochat de folatje
E.us promet e.us plevisc gatje;
Si.m fariatz omanatge
Senher,” so dis la vilayna,
“Mays ges per un pauc d’intraje
Non vuelh mon despieuselatje
Camjar per nom de putaina!”

(11)
“Toza, tota criatura
Revert segon sa natura.
Parlem ab paraula pura,”
Fi m’ieu, “tozeta vilayna.
A l’abric lonc la pastura,
Que mels n’estaretz segura
Per far la cauza dossayna.”

(12)
“Don, oc—mas segon drechura
Serca fol sa folatura,
Cortes cortez’aventura.
E.l vilas ab la vilayna;
“E mans locs fay sofraytura
Que no.y esgardo mezura,
So dis la gens ansiayna.”

(13)
“Bela, de vostra figura
Non vi autra pus tafura
Ni de son cor pus trefayna.”

(14)
“Don, lo cavecs nos aüra
Que tals bad’en la penchura
C’autre n’espera la mayna.”


Tradução

(1)
Num outro dia, perto de uma cerca,
Encontrei uma pastora mestiça,
Cheia de humildade e alegria,
Uma filha de camponesa,
De capa e saia,
Uma camisa de algodão vestia,
Sapatos e meias de lã.

(2)
Fui até ela pela planície,
"Garota", eu disse,  "Criatura charmosa 
Sinto muito que o frio te castigue",
"Senhor", disse a camponesa, 
"Graças a Deus e minha enfermeira,
Não me importo se o vento estiver forte ou fraco,
Pois estou feliz e saudável."

(3)
"Garota", eu disse, "carinhosa criança,
Eu me desviei do meu caminho
Para te fazer companhia.
Pois uma garota camponesa,
Não deve sozinha,
Pastorear esse grande rebanho,
Nesse lugar selvagem, sem companhia”.

(4)
"Meu senhor", ela disse, "seja lá quem eu for,
Loucura e bom senso posso discernir,
Sua companhia, bom senhor, eu rejeito,
Deixo isso para sua esposa que tem direito,
Esta pobre dama achava que tinha
Mas estava enganada."

(5)
"Garota de nobre porte,
Vosso pai foi um cavaleiro
Que a gerou em sua mãe,
Pois ela era uma cortês camponesa.
Quanto mais te olho,
Mais bonita me parece,
Eu gostaria que fosse mais bondosa!"

(6)
"Senhor, meu porte e raça
Estão enraizadas e vão
Da tesoura de poda ao arado,
Senhor", assim disse a camponesa;
"Mas há cavaleiros
Que deveriam fazer o mesmo
Seis dias por semana!"

(7)
"Garota," falei eu, "Uma nobre fada
Te dotou no nascimento
Uma beleza esmerada,
Maior que qualquer outra camponesa,
E ela seria dobrada,
Se por uma vez eu pudesse ver,
Eu em cima e você em baixo."

(8)
"Bom senhor, tanto me elogiou
Muitas iriam me invejar!
Vosso amor me agradou,
Senhor", disse a camponesa,
"Terá uma recompensa ao partir:
Boceje, tolo, boceje!
Enquanto espera eternamente."

(9)
"Garota, o coração selvagem e mau
Pode ser domesticado pelo uso.
Sei bem que uma
Camponesa como você
Pode fazer uma boa companhia,
Com uma amizade cordial,
Desde que nenhum dos dois minta."

(10)
"Senhor, o homem atormentado pela tolice
Fará promessas e votos,
Assim me pagaria homenagem,
Senhor", disse a camponesa,
Mas não quero, por um mero tributo,
Trocar minha virgindade,
Pela reputação de prostituta."

(11)
"Garota, toda criatura
Volta a sua natureza,
Vamos falar em linguagem pura,"
Assim eu disse, "Você e eu garota,
Vamos no pasto,
Onde se sentirá segura,
Para fazermos a doce coisa."

(12)
"Senhor, mas pense o que é certo:
O tolo procura a loucura,
O cortês, a aventura cortês,
Um camponês, uma camponesa.
Muitos lugares sofrem pragas,
Pois não respeitam os graus,
Assim dizem os velhos.

(13)
"Bela, de vossa figura
Nunca vi outra tão astuta,
Nem com um coração tão falso."

(14)
"Senhor, a coruja nos avisa,
Que enquanto um homem observa uma pintura,
Outro anseia por maná."


Explicações

O poema começa com um nobre (provavelmente um jovem cavaleiro) vendo uma pastora em um campo com seu rebanho. Ela é uma filha ilegítima de um nobre e de uma camponesa. O cavaleiro a aborda para conversar, dizendo que está preocupado com ela por causa do frio.

Ela garante a ele que está bem, segura, saudável e sem necessidade de proteção. Quando ele responde que veio lhe dar sua “companhia” (aqui com conotação amorosa), ela responde dizendo que não é burra e que sua “companhia” pertence a sua esposa, não a ela. A pastora deixa bem claro que está ciente das intenções desonrosas do nobre

O nobre então tenta a fazer confortável citando o nobre pai da menina e a aparência nobre de sua mãe. Ela reafirma a distância social entre eles, alinhando-se firmemente com o campesinato. Ela também comenta sarcasticamente, dizendo que alguns cavaleiros não merecem o título de nobre.

O cavaleiro então muda de argumento, descrevendo a beleza e os encantos da garota como presentes de uma fada, e ele faz sua primeira proposta sexual. A pastora gentilmente agradece a ele por seus elogios, mas combina isso com um fora severo e humilhante (boceje, tolo, boceje!), dizendo que ele adormecerá se esperar por ela.

O cavaleiro continua a pressionar, dizendo que, com base em suas experiências, as camponesas acabam cedendo. Ele propõe que ambos sejam abertos e honestos um com o outro. A pastora argumenta que os homens que buscam a sedução são mentirosos incorrigíveis, que seus elogios têm apenas um propósito: uma relação sexual. Ela se recusa a trocar sua virgindade pela reputação de uma prostituta.

O cavaleiro agora muda para o argumento de "natureza". Todas as criaturas são fiéis a própria natureza e, eventualmente, voltam ao que nasceram para ser. Aqui ele sugere que a mãe da camponesa era uma prostituta que dormia com um cavaleiro, e tal traço de personalidade é algo inato na filha da mulher. Ele propõe que eles se retirem a um lugar no pasto, onde farão a "doce coisa".

A pastora recusa, mais uma vez mencionando suas diferentes classes sociais e como as pessoas devem respeitar os graus sociais. Ela cita a sabedoria tradicional sobre a necessidade de manter o status e o grau em uma sociedade, usando habilmente um argumento aristocrático para defender sua dignidade de camponesa. O cavaleiro expressa sua frustração, e a pastora o dispensa, fazendo uma referência sarcástica a quem olha fixadamente um quadro, ou quem anseia com fome pelo maná que não vem.
 As referências nessas últimas palavras sugerem que as imagens artificiais e as esperanças absurdas são coisas de nobres tolos que mentem para os outros e para si mesmos, mas que essas besteiras não atraem o camponês sensato e obstinado.

A casta pastora derrota completamente o cavaleiro lascivo neste debate, trazendo à tona o tom moralista de Marcabrú, um árduo defensor da pureza.

Mensagens populares deste blogue