Pos de chantar m'es pres talenz

- Guilherme IX -


   Lamento escrito pelo polêmico Guilherme IX da Aquitânia, provavelmente antes de partir para a segunda cruzada de 1101. No poema, Guilherme reflete sobre a proximidade da morte e abandona os prazeres do mundo, pedindo que Deus o aceite no paraíso.

(1)
Pos de chantar m'es pres talenz,
Farai un vers, don sui dolenz:
Mais non serai obedienz
En Peitau ni en Lemozi.

(2)
Qu'era m'en irai en eisil:
En gran paor, en gran peril,
En guerra, laisserai mon fil,
Faran li mal siei vezi.

(3)
Lo departirs m'es aitan greus
Del seignorage de Peitieus
En garda lais Folcon d'Angieus
Tota la terra e son cozi.

(4)
Si Folcos d'Angieus no-l socor,
E-l reis de cui ieu tenc m'onor,
Guerrejar l'an tut li plusor,
Felon Gascon et Angevi.

(5)
Si ben non es savis ni pros,
Cant ieu serai partitz de vos,
Vias l'auran tornat en jos,
Car lo veiran jov'e mesqui.

(6)
Merce clam a mon conpaignon,
S'anc li fi tort, qu'il m'o perdon,
Et il prec en Jezu del tron
En romans et en son lati.

(7)
De proez'e de joven fui,
Mais ara partem ambedui,
Et ieu irai m'en a Cellui
On tut peccador troban fi.

(8)
Mout ai estat cuendes e gais,
Mas Nostre Seigner no-l vol mais;
Ar non puesc plus soffrir lo fais
Tant soi aprochatz de la fi.

(9)
Tot ai guerpit cant amar sueill:
Cavalaria et orgueill
E pos Dieu platz, tot o acueill,
E El que-m reteigna ab Si.

(10)
Totz mos amics prec a la mort,
Qu-il vengan tuit e m'onren fort,
Qu'eu ai agut joi e deport
Loing e pres et e mon aizi.

(11)
Aissi guerpisc joi e deport,
E vair e gris e sembeli.

Tradução

(1)
Pois me veio o desejo de cantar,
Farei um verso que me entristece:
Não mais serei obediente
Em Poitiers ou em Limoges,


(2)
Pois agora vou ao exílio:
Em grande pavor, em grande perigo!
Em guerra deixarei meu filho
E os vizinhos o farão mal!

(3)
É difícil para mim partir
Do domínio de Poitiers,
Em guarde deixo Fulco de Angers,
De toda a terra e seu primo.

(4)
Se Fulco de Angers não o ajudar,
E nem o Rei que devo meu título,
Muitos o farão maldades:
Os cruéis gascões e angevinos!

(5)
Se não for bem sábio ou valente
Quando eu te deixar,
Eles vão derrubá-lo,
Pois o verão como jovem e indefeso.

(6)
Agradeço ao meu companheiro,
Se alguma vez o ofendi, peço que ele me perdoe,
E que ele reze a Jesus em seu trono,
Em occitano e em seu latim.

(7)
Tive alegria e juventude,
Mas agora ambos se foram,
E eu irei para Aquele
A quem todos os pecados encontram paz.

(8)
Eu tenho sido agradável e alegre,
Mas Nosso Senhor não quer mais,
Não consigo mais suportar o fardo,
Tão perto estou do fim.

(9)
Eu deixei tudo que costumava amar:
Cavalaria e orgulho,
E por isso agradar a Deus, aceito totalmente,
E que Ele me permita estar com Ele.

(10)
Rezo que todos os meus amigos na minha morte,
Que venham todos e me honrem fortemente,
Porque eu mantive a alegria e diversão
Longe e perto e em minha própria morada.

(11)
Então deixo a alegria e diversão
E peles de esquilos e zibelinas.

Mensagens populares deste blogue